sexta-feira, 1 de abril de 2011

FORMAÇÃO DE PROFESSORES E EDUCADORES

Nas formações de formação de professores e educadores procuro enfatizar atividades didáticas que privilegiem a ação do aluno e, nesse sentido, atividades artísticas são excelentes recursos, uma vez que a arte vem ocupando significativo espaço na formação humana, desde o início das civilizações até a atualidade.


Em decorrência, cursos específicos de especialização em arte terapia são oferecidos não apenas a professores, mas a profissionais que trabalhem em diferentes contextos, a fim de que possam adicionar à sua prática o uso terapêutico e profilático de recursos criativos, sejam plásticos, poéticos, musicais, de expressão corporal... Nesse sentido, não se trata de lançar mão da arte pela arte, ou da arte apenas como recurso para facilitar a aprendizagem, mas sobretudo da arte integrada a outros recursos expressivos, numa relação de ajuda.


Sabemos que a arte é um elemento muito importante na vida de cada pessoa e que o educador, de modo especial, pode munir-se, através da arte, de uma riqueza inestimável de recursos que auxiliem sua tarefa educativa, principalmente a partir do momento em que se conscientize de que pode e é interessante que trabalhe, também, sua própria onipotência, reestruturando a concepção de saber, que não se restringe ao lógico-matemático, mas abarca todos os tipos de inteligência e lhe possibilita a busca de diferentes maneiras de transmitir a mesma mensagem, aproveitando todas as possibilidades que o repertório de conhecimentos e emoções do
aprendente/interlocutor traz.


Assim, com lucidez, compromisso e responsabilidade, práticas e vivências são utilizadas para trabalhar os bloqueios de aprendizagem e a construção dos conceitos. Dessa forma, o docente não vai negar a inteligência do outro, mas dispor-se a percebê-la, a identificar qual canal prioritário é utilizado para conhecer o mundo, analisá-lo, aprender. Vai valorizar o aprendente e apostar na sua aprendizagem, investir na sua formação, utilizar a expressão artística para estimulá-lo a exprimir, sem receios, sem censuras, sem se importar com talento ou capacidade criativa, seus sentimentos e emoções, fazendo, posteriormente, a interpretação do que pode exprimir através da criação artística.


Docentes/Ensinantes já despertos para tais possibilidades refletem, dirigem o olhar, também, para suas próprias vivências: analisam os respectivos sentimentos, procedimentos, reações... procurando enxergá-los com equilíbrio, pesando as adequações e inadequações, flexibilizando, dando-se oportunidade de investir, falhar, acertar, negociar... aceitando-se como seres em transformação, eternos aprendizes que interagem com o aluno, ensinando e, ao mesmo tempo, aprendendo. Nesse processo, se enriquecem e, utilizando o recurso da arte como mediadora do diálogo interno, da visão de mundo, de professor, de escola e de si mesmos se aperfeiçoam, ampliam a própria visão e possibilidades, se embelezam.


Durante esse processo amadurecem, revêem todo o conteúdo que desenvolvem em suas aulas, analisam, refletem sobre os entraves encontrados, não como vítimas do processo, mas como co-autores, e relativizam, quer seus acertos, quer as falhas, percebendo que a ótica pela qual analisavam o mundo era mais rígida e deixava de beneficiar seja a si mesmos , seja aos seus interlocutores. Interessando-se pela arte terapia, utilizando seus recursos, estão flexibilizando e dando oportunidade ao aparecimento de perspectivas que antes nem percebiam ou, quando percebiam, desconsideravam.
Professor/Ensinante/Psicopedagogo/Arte Terapeuta deve pesquisar constantemente, buscar fundamentação teórica para embasar sua aprendizagem e seu trabalho, para poder discriminar suas possibilidades de cooperação e complementaridade, bem como contemplar um outro lado seu e perceber a transformação pela qual está passando; perceber as vivências que lhe estão permitindo trabalhar a auto-imagem, bem como a percepção de que é positivo investir em comportamentos que não polarizem, mas ajudem a relativizar e amadurecer.


É importante que cada educador/arte terapeuta esteja desperto, atento à dinâmica da escola como um todo e da sala de aula em particular, cônscio de que é fundamental para o processo de identificação, valorizar personagens com traços de sabedoria e perspicácia, que usem estratégias para convencer os oponentes, vencendo pela sutileza e não pela força física; ciente de que nenhum herói sozinho dá conta de toda a diversidade, mas que, de acordo com a situação, cada uma das forças heróicas (prazer, competição, força, sabedoria, colaboração, complementaridade) deve ser resgatada/convocada, para agir na superação dos obstáculos, na transformação e evolução da própria atuação.


Nesse sentido as atividades de arte terapia estimulam a desinibição, o autoconhecimento, a criatividade, levando os participantes a uma sensação de integração com o mundo que instiga à resolução de conflitos pessoais, à melhoria do relacionamento social e desenvolvimento harmônico da personalidade.
Finalmente, a arte terapia pode ser utilizada como elo de interação entre os vários campos do conhecimento, colaborando sobremaneira na construção da interdisciplinaridade no âmbito da escola, elaborando a comunicação entre as possibilidades e limites próprios da ciência e a expressiva liberdade de criação da arte; fazendo ligações entre anseios gerados pelo mundo atual com o mais remoto passado, enfim promovendo o desenvolvimento do potencial humano através de situações que favoreçam a leitura do mundo de maneira ampla, rica e profunda.

Referências Bibliográficas
Fernández, Alicia. A inteligência aprisionada: abordagem psicopedagógica clínica da criança e sua família. Porto Alegre: Artes Médicas, 1990.

Sobre a Autora
Sou a Psicopedagoga Clínica e Institucional (com formação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul) e Arteterapeuta - Consultora de Desenvolvimento Humano e Criatividade (com formação pela CENTRARTE – POA – RS) e Educadora de Inclusão Digital da ONG ABSC - Professora de Informática (com formação pelo AMADIS - Fundação Pensamento Digital (UFRGS – PUCRS.)

Arte Terapia: Arte com arte na escola

Resumo : o presente artigo relata um breve histórico sobre a arte terapia , bem como seu emprego em sala de aula a fim de superar as dificuldades de leitura e escrita.

Um breve histórico

O termo Arte-Terapia surge pela primeira vez em 1945 no primeiro livro publicado por Adrian Hill, Art vs Illness (Arte versus Doença). Adrian Hill, artista inglês, esteve internado num sanatório para tratar uma tuberculose. Durante o longo período de evolução da sua doença e reabilitação, numa época em que os recursos para a combater eram escassos, ele passou o tempo a pintar. Os médicos que o assistiam puderam observar uma aceleração na sua recuperação e um estado geral de bem estar manifesto. Após o seu restabelecimento, eles convidaram-no a regressar para fazer pintura com os pacientes do sanatório. Desde esses acontecimentos a Arte-Terapia evoluiu significativamente, tanto do ponto de vista dos modelos que a caracterizam, das formações existentes, como dos países em que é reconhecida. Basta dizer que a Arte-Terapia é um dos meios terapêuticos reconhecido e subvencionado pelo sistema de saúde britânico. Ela é, a título de exemplo, uma valência terapêutica reconhecida pela Associação Internacional para o Tratamento da Esquizofrenia.

O interesse despertado pela relação entre arte e terapia já vem de longe e são inúmeros os precursores que se podem encontrar ao longo dos tempos. Tanto a psiquiatria do Séc. XIX como a psicanálise do Séc. XX ficaram fascinadas com a recolha de sinais e símbolos, independentemente de estes serem a manifestação de sintomas de quadros clínicos ou a representação - segundo uma grelha fundamentada na interpretação - de complexos descritos por Freud.

Muitos manifestaram interesse na arte como veículo de expressão psicopatológica ou não, como Charcot, Freud, Morgenthaler, Prinzhorn, Jung e outros. Aquilo que caracteriza a Arte-Terapia é proveniente de 3 correntes:

· a teórico-prática, como expressão artística e material de diagnóstico, semiológico e de prognóstico,

· a pragmática, considerando a arte como instrumento terapêutico, mesmo reduzindo-se à ocupação e distração do doente,

· a estética, emergindo do Surrealismo e da Arte-Bruta, como descoberta quase etnográfica de criadores considerados "fora das normas".

A experiência artística pode intensificar qualquer experiência humana e incrementar a consciencialização do sensorial e a sensibilidade estética. No contexto da Arte-Terapia, a facilitação de tal tomada de consciência pode ser importante para promover a riqueza interior, a vitalidade e a qualidade de vida. Esta experiência tem um papel importante na mobilização das pulsões reprimidas e assim facilita uma vida psicológica mais livre. Imagens de transformação e mudança, representadas nas criações artísticas, dão expressão à função reparadora no decurso do processo terapêutico.

Em Arte-Terapia existem diversos níveis de intervenção, como por exemplo:

1. Arte-Terapia Integrativa: neste nível de intervenção, centrado no "aqui e agora" de uma sessão, é proposto o acesso integrativo aos vários mediadores de expressão, através de propostas orientadoras (intervenção semi-diretiva). É assim facilitado o auto-conhecimento, o desenvolvimento pessoal e a inter-relação com os outros (caso seja no âmbito de uma intervenção grupal), através das artes plásticas, de jogos, da expressão corporal e dramática, de fantoches, da música, da escrita livre, etc...

2. Arte-Psicoterapia Analítica(individual ou em grupo): exige do arte-psicoterapeuta uma postura analítica e um eficaz manejo das teorias psicanalítica e grupanalítica. É uma abordagem essencialmente elaborativa, que também é designada com Psicoterapia Analítica Mediada.

A Associação Americana de Arte-Terapeutas (A.A.T.A), define-a como uma profissão de carácter humanístico em que a utilização de mediadores de expressão artística reflecte o processo criativo e as respostas do paciente/cliente face à sua produção de arte, como espelho de um desenvolvimento pessoal, das aptidões, da personalidade, de interesses, de preocupações e conflitos. A Arte-Terapia baseia-se no conhecimento do desenvolvimento humano e nas teorias da psicologia que são implementadas num amplo espectro de modelos de avaliação e tratamento como o modelo educacional, o modelo psicodinâmico, o modelo cognitivo, o modelo transpessoal e outros meios terapêuticos. Esses modelos procuram reconciliar conflitos emocionais, fomentando um maior conhecimento de si, o desenvolvimento de aptidões sociais, a gestão de comportamentos, a resolução de problemas, a redução de ansiedades e o incremento da auto-estima. Ainda segundo a A.A.T.A., a Arte-Terapia constitui um tratamento efetivo em casos de problemáticas de desenvolvimento pessoal, de saúde, de aprendizagem, sociais e psicológicas e é praticada em instituições de saúde mental, de reabilitação, hospitais, escolares.

Para a Associação Nacional Australiana de Arte-Terapia (A.N.A.T.A.) a Arte-Terapia como forma de psicoterapia, é uma prática interdisciplinar praticada através da saúde e da medicina, utilizando várias formas de artes visuais como o desenho, a pintura, a escultura e a colagem. Alguns terapeutas usam fotografia e a técnica dos tabuleiros de areia. Geralmente baseia-se em princípios psicanalíticos ou psicodinâmicos, mas os terapeutas são livres de usar bases teóricas em que se sintam mais à vontade. A Arte-Terapia é um meio terapêutico e de diagnóstico em que terapeuta e paciente desenvolvem uma relação inter-pessoal dinâmica, com limites e objetivos específicos. Difere da arte tradicional no sentido em que é enfatizado o processo criativo em detrimento do resultado final. A Arte-Terapia é um processo criativo, para todas as idades e em particular para todos aqueles que se confrontam ou confrontaram com profundas alterações nas suas vidas, quer seja de ordem pessoal ou de auto imagem.

O USO NO CONTEXTO ESCOLAR

A arte é, entre todas as atividades, a que agrega de modo mais eficiente os aspectos racionais e criativos do ser humano.

Ao desenvolver uma atividade artística, o sujeito não só estará interferindo na realidade, como também estará estruturando-se de forma mais adequada, saudável e eficiente.

Através das diversas manifestações artísticas, as pessoas podem se expressar de uma forma própria e singular e superar as mais diversas barreiras da comunicação.

Utilizando-se de todas as expressões artísticas e com recursos simples e muito eficientes a arte terapia favorece o desenvolvimento e à superação de limitações pessoais, buscando-se assim o aumento do repertório de habilidades, a melhor estruturação da personalidade, o aumento do horizonte de interesses, a composição de novos objetivos e a melhor habilidade em lidar com os seus próprios conflitos.

Muitas instituições voltadas para a inclusão social utilizam a arte, como importante meio educacional. . Onde outras metodologias falharam a arte alcançou resultados significativos, principalmente ao atrair espontaneamente meninos e meninas para outras atividades educativas e sociais.


“As muralhas estéticas definiam o território fechado de uma certa forma de ócio elegante. Mas esse lazer ocioso, essa utilização do tempo livre, não foram dados a todos por igual dentro da sociedade: constituíram-se em privilégio das classes sociais favorecidas, que foram também as classes sociais dominantes. (Porcher, 1982, p. 13)

A educação escolar deve assumir, através do ensino e da aprendizagem do conhecimento acumulado pela humanidade, a responsabilidade de dar ao educando o instrumento para que ele exerça uma cidadania mais consciente, crítica e participante. (Ferraz e Fusari, 1993, p. 33 e 34).


Através de projeto educativo integrando todas as disciplinas é possível junto com o professor de artes trabalhar de forma significativa com o objetivo de atrair alunos para que possam desenvolver a aprendizagem,. e recuperar sua auto imagem . Atividades simples tais como a hora do conto, desenhos, interpretação oral e escrita , dramatização dos personagens ou seja através de arte terapia interativa.


Um exemplo deste trabalho foi desenvolvido em uma escola da rede municipal com crianças de 4ª serie. A atividade teve com objetivo resgatar auto-imagem de alunos com dificuldades de leitura e escrita par tanto a professora utilizou -se da hora do conto , tão importante para o desenvolvimento do psiquismo infantil; onde o aluno é autor e co-autor do conto.


Enquanto co-autor um narrador de um lado, e de outro lado o autor contador de historia, e de outro lado o ouvinte, deu-se importância para oralidade. Em seguida para rescrita do conto e leitura desta produção. Num terceiro momento a representação desse personagem e seu significado para o aluno quer seja através de desenho, musica, fantoches, e/ou a dramatização. O educador deve estar atento “saber olhar para saber escutar” para que possa observar o comportamento dos alunos frente a cada passo resgatando sua auto-imagem e de fato favorecendo o aprendizado assim com Adrian Hills alcançou seu crescimento é possível com sensibilidade e com arte para a arte atingir o que desejamos: formação de sujeitos autônomos.

Bibliografia:

  • Barbosa, Ana Mae. Arte-Educação – Leitura no subsolo. São Paulo . Cortez Editora, 1997.
  • BROWN, Daniel. Fundamentos de Arte-terapia – coleção Fundamentos. São Paulo: Vitória Régia, 2000.
  • DUARTE JR., João FranciscoPorque Arte-Educação?. Campinas: Papirus, 1996.
  • EDWARDS, Betty. Desenhando com o lado direito do Cérebro. Rio de Janeiro: Ediouro, 1984.
  • JARREU, Gladys Teoria e técnica da Arte-terapia – a compreensão do sujeito. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.
  • READ, Herbert.O sentido da Arte. São Paulo, IBRASA, 1978.
  • TOLSTÓI, Leon. O que é Arte?. São Paulo: Ediouro.

Fonte: http://www.projetospedagogicosdinamicos.com/arte_terapia.htm